O mundo ainda tem fome

Esse é Eugenio.
Janela para os amigos distantes
Em tempos de eleições é difícil conter o canto de sereia que a política exerce sobre meu pobre sangue de ex-militante. É como a tentação do alcoólatra abstêmio (disse-me um amigo que não há ex-alcoólatra) diante do absinto. Por que o absinto? Além de embriagante, é ritualístico e poético, confessou.

Resisti o suficiente para não opinar. E também porque há muita gente competente e atualizada fazendo-o. Aliás, alegra-me ver muitas mulheres opinando, além das que concorrem. Não tenho ilusões sobre mulheres no poder - vide Margareth Thatcher -, mas é inconcebível que essa metade da humanidade, e que ainda a educa, continue afastada da política.

Em meio a recaída, li artigo de Frei Beto, na Revista Caros Amigos, que nos lembra: apesar de muito já se ter feito, o mundo ainda tem fome. Crianças continuam morrendo de desnutrição. Em 2009 havia 1 bilhão de desnutridos na Terra. Dados da FAO, agência da ONU.
A fome parece absurda em meio a tanta riqueza. Conseguimos construir o Taj Mahal, inventar este computador, voar pelo espaço, mas não conseguimos plantar trigo pra todos os homens.
Por que a fome então? Falta de terra? De recursos naturais ou financeiros? De quem plante? De quem colha? Não.
Falta de compaixão? Não. Até uma pedra se comove diante de uma criança que morre de fome.
Falta de interesse. Acabar com a fome parece não dar lucro, ainda não.

Outra revista, mais um artigo, e Delfim Neto nos lembra que em poucos anos 200 milhões de chineses migrarão das zonas rurais para as cidades. Um Brasil de chineses para ser alimentado. Vamos plantar, ele diz, e alimentá-los. Negócio da China, aposta. Temos terras, bom clima e tecnologia agrícola.

Voltemos a Caros Amigos ouvir Marcio Pochmann, professor da Unicamp, autor dos mapas da exclusão brasileira. Ele diz que o modelo distributivo de renda (as bolsas) atingiu seu limite de ação. É preciso avançar, botar dedo em feridas antigas, reformar o sistema agrário, tributário, social. O fato bom aqui (não lembro se foi ele quem disse) é que a sociedade brasileira começa a perceber que essas reformas podem beneficiar a todos, mesmo quem está no topo da pirâmide.

Algumas páginas adiante, José Luis Fiori comenta a crise na Europa. O velho mundo está no bico-do-corvo. O euro dificilmente se sustenta, antigos conflitos ameaçam acabar com o sonho dourado de uma Europa unida. Temas como desemprego, pobreza, conflitos sociais, voltam à agenda dos nossos primos ricos.

E as boas notícias? Nada? Calma, diz o Financial Times, "os brasileiros estão chegando". Eles mesmos, os ingleses, disseram. O link para o artigo está aí embaixo.

Continuo me inteirando, agora na internet. Exportamos a Embrapa. Escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária na África, leva tecnologia e pesquisa a 35 países africanos.

Navego mais um pouco - porque "navegar é preciso". Exportamos nossas idéias. A ONU estuda projetos brasileiros de combate à fome com a intenção de adotá-los. 

O mundo ainda tem fome, é verdade, e o momento extraordinário que o Brasil vive, se bem conduzido, poderá fazer crescer muito pão dos seus campos de trigo. Que glória maior caberia a um povo neste momento em que a humanidade se envergonha de seus famintos?

O que diria Darcy Ribeiro do seu "Povo Brasileiro" hoje?

Joana viu os campos de trigo nos seus vales. Seus filhos brincaram neles e deles se alimentaram.
Quem já viu um campo de trigo entende quão pouco é necessário para se dar a todos o pão de cada dia.




Artigo do Frei Beto, trechos da entrevista com Poschmann e Fiori. Edição de agosto/2010
http://carosamigos.terra.com.br/

Artigo do Delfin
http://www.cartacapital.com.br/economia/alimentar-a-urbe

Artigo do Financial Times comentado por Demarchi
http://www.brasilianas.org/blog/luisnassif/o-canto-de-sereia-do-financial-times

Embrapa na África
http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=8285743&canal=407

ONU mira o Brasil no combate a fome
http://www.portalodm.com.br/onu-mira-o-brasil-no-combate-a-fome--n--138.html

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