Lembranças de sábado

Esta sala
Essa vontade de gritar
Gritar para a porta entreaberta,
a cortina esquecida
que se curva à mão discreta do vento.
E voa.
Rende-se.

Gritar para as lembranças antigas
fugidas de uma falha na mente distraída.
Agora estão aqui.
Cantam para mim.
Desenham formas na parede vazia.
Leem poemas do Drummond
enquanto corto os tomates.
Casa de madeira,
comum nas colônias italianas do Sul
Contam histórias na varanda azul
de uma casa que passou.
Beijam minhas costas.
Partem.
Fico só.

A sala agora vazia
A chave balança ao vento inexistente.
Quadros sem história me observam.
Não me conhecem.
Preciso lhes dizer sobre quem sou.
Quando vier a vontade de gritar
Quando me visitarem
(em outro tempo)
outras lembranças,
numa sala que ainda não chegou,
contarão minha história de hoje.

Campinas, 2003


  

Comentários

Postagens mais visitadas