La tierra del olvido

Foi sempre a palavra, desconfiava. Os amores, as dores, as causas. O arrepio do encontro, o frio do desencontro, o ânimo da luta, nasciam-lhe da palavra. Duras, doces às vezes, percorriam o corpo desde o ventre até o ouvido. Era capaz de sentir em cada vértebra a vibração diferente de cada sílaba. Esquecia facilmente um rosto, nunca uma voz.

Quando experimentou o primeiro arrepio que ele lhe causou, não houve palavras. Apenas cheiro de pasta de dente. Buscou a causa da sensação no corredor branco e sem encantos. Estava vazio e em silêncio. Seguiu até a porta errada para sair do outro lado. La tierra del olvido, pensou, e o verso traduziu a sensação, que buscou nos mesmos corredores brancos e sem encantos no tempo seguinte.

Experimentou o arrepio outra vez. Quando tocou sua boca, sentiu a pele, as mãos no corpo, a língua na orelha. Delírio. E silêncio.

A palavra sempre partida. Lugar de se esconder. Os mundos incomunicáveis, tantas vezes hostis. La tierra del olvido.

No mundo desconhecido compartilhado, no arrepio que nasceu do silêncio, buscam-se nos sentidos da pele, na respiração na boca.

No desejo da palavra que não alcançam, o desejo de regresso a la tierra del olvido.

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