Os amores do caminho

Entre os tantos balanços do isolamento, inevitável pensar nos amores da caminhada.

Foram sete grandes amores. Foram, sim, pois nenhum me acompanha. Tem um oitavo, mas trata-se de criatura diáfana, não conta. O número parece cabalístico, coincidindo com o teoria zuzu bem de ciclos de sete anos. Como o primeiro amor que lembro foi aos sete ou oito anos de idade, a matemática fecha com a cabala.

Notei que cada um deles virou um quadro na parede, um livro ou um objeto na estante, às vezes a marca na página de um poema. Não foram premeditadas essas memórias na parede, mas lá permanecem inertes, enfeitam em silêncio. Nesses dias de isolamento um ou outro tem até aparecido em sonhos, sempre eróticos, mas interrompidos por alguma razão banal antes de qualquer revival.

Não sei se haverá o próximo grande amor. A mesma teoria zuzu bem diz que não, que o momento é outro, é do espírito. Para mim sempre foi do espírito. Kundalini. Os grandes amores são do espírito. Não sei o que será agora. Mas sei que meu interesse, ainda que sexualmente continue o mesmo, intelectualmente tem se voltado para as mulheres.

Percebo os homens, com exceções claro, se apagando, duros, indiferentes, impotentes, independente da potência biológica ou da química azul, olhando para um passado de glórias, do qual, se existiu, não vejo os frutos.

Em meio ao caos, por outro lado, vejo mulheres jogando luz em vários pontos cegos. Especialmente nas diferentes ciências, nas reflexões sistêmicas, nas ações parlamentares, na liderança social, na experimentação dos afetos. Poucas ainda, mas luminosas. A maioria das outras, é verdade, deixa-se apagar agarradas a esses tristes homens, desamadas, desrespeitadas, mergulhadas em uma idiotia infantil dependente. Algumas por escolha, a maioria por não ter escolha.

E assim, as memórias dos homens já amados termina me levando às mulheres. Às vezes me ocorre que sou como a maioria dos homens que conheço, heterosexual homoafetiva...


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