Querido diário...

















Acordei. Primeiro pensamento: Izabel gosta de colocar este lençol de passarinhos na minha cama...
Vou para a cozinha fazer café. Acabou aquele pó maravilhoso!
Lista de compras: café (da feirinha natureba). Faço do outro mesmo.
Bebo olhando as montanhas atrás dos edifícios altos. Tem um bem-te-vi cantando próximo.
Banho, roupa e rua. Vou ao trabalho andando, ouvindo Maria Bethania. Romântica hoje...
Chego. Todos em polvorosa. A rede está “fora”! Estamos sem conexão com o mundo externo.
Descubro o problema: a solução vai demorar e não depende de nós. Informo aos que ligam perguntando. Esperar...
O problema da maioria não é o trabalho que ficará por fazer, é passar horas sem internet.
Pego o primeiro livro da pilha de não técnicos. Sérgio Vaz, Literatura, Pão e Poesia“E não acreditem em poetas. São pessoas tristes que vendem alegria”.
Ouço o discurso de um colega, que vem pessoalmente à minha sala, sobre a droga que é a tecnologia.
Concordo e acrescento mais alguns pecados tecnológicos. Sugiro que vá passear na rua ou leia os jornais com os pés sobre a mesa.
Pergunta o que vou ficar fazendo ali. Nada. “Eu vim aqui foi pra vadiar/ vadeia amor/ vadeia”.
Riu e se foi.
Almoço. Saio com duas amigas. Uma está grávida. Ela está mais bonita grávida. Nunca me imaginei mãe...
Vamos a um restaurante que tem comida japonesa, porque a grávida está a fim. Gosto, mas prefiro pratos mais simples. Além da comida, esses lugares me fazem sentir irreal, como se não fosse eu que estivesse ali. Deve ser por causa dos cheiros.
Na saída, o mocinho do caixa olha hipnotizado para nossa outra amiga. Parado, com o troco na mão olhando pra ela, só acorda quando leva uma cutucada da menina do outro caixa.
Saímos bebendo chá de alguma erva cheirosa e rindo da situação.
Tarde normal. Rede funcionando. Trabalho.
No fim do dia, reunião com o cara da empresa que vai remodelar o site do sindicato para o qual colaboro.
Primeira reunião, não o conheço.
Vamos eu e o presidente, que vai para me apresentar, pois é um ignorante assumido na área.
O objetivo é fazer com que eles refaçam todo o site, caro e ruim, que construíram.
É claro que ele não vai querer.
Essas são as horas enjoadas de ser mulher numa área onde os homens se acham donos.
Estratégia, então...
Facebook. Quem é o cara? Homem, branco, pai de família, duas filhas, chama a mulher de esposa e as filhas de princesas.
hum... um Clássico... macho-branco-católico-pai de família-empregado-provedor. Mulher é bibelô: para ser cuidada e apreciada; e meio incapazes, claro.
É o meu modelito preferido para o outro lado da mesa. Teremos o nosso novo site.
Depois uma cervejinha e política. Resolver os problemas da humanidade na mesa de um bar.
Volto para casa. Dia longo. Banho e cama. Último pensamento do dia: talvez já esteja na hora de voltar a pensar  em um namorado...


Comentários

Postagens mais visitadas