Tatu não sobe em toco

Aqui observando o discurso de Ciro Gomes...


Especialmente em dois elementos, a agressividade e a fúria contra o PT. Ele tem aprofundado ambos, perceptivelmente. Difícil acreditar que não esteja monitorando os efeitos e notando que a estratégia funciona. O que Ciro faz é capitalizar o ódio e o medo atávico que a classe média tem do PT e angariar aqueles que se sentem seguros com o perfil valentão.

Pensando naqueles números de sempre do eleitorado, 30% progressistas, 30% conservadores de vários matizes e 40% massa amorfa que vai com o vento, Ciro atua nos 40%. A estratégia eleitoral é fácil de entender, ele avança pouco nos outros dois segmentos.

O perfil dos 40% é mutante, já votaram no PSDB e no PT felizes e até na Marina, com o discurso romântico da sustentabilidade dos óleos hiperalergênicos da Natura e o liberalismo econômico do Itaú. Na última eleição migraram para a extrema direita liberal votando no Bolsonaro e no Novo. Vale notar que até o Meirelles, o liberal puro sangue, foi rejeitado, provavelmente contaminado pelo ódio ao PT, já que fez parte do governo Lula.

Ciro captou o apelo mais forte e comum aos 40%. Pessoas que, além da vergonha do Bolsonaro e sua falta de modos, começaram a desconfiar dos liberais do Novo e do PSDB - que são os mesmos - porque perceberam que o liberalismo mira o bolso deles (muitos são servidores públicos) e não apenas os desprovidos de mérito. Assim, ficaram órfãos, politica e economicamente.

O que Ciro oferece à essa parcela da classe média? Ele não se coloca como liberal anti Estado, ao contrário, faz um discurso Keynesiano - e na hora da crise todo mundo é keynesiano, principalmente os meritocráticos. Nisso ele ganha os pragmáticos entre os 40%. De brinde, ao manifestar o ódio ao PT (que às vezes parece forçado), oferece aquele prazer libidinal que a fúria proporciona, aquele que Freud explica. Ou seja, oferece aos 40% uma saída econômica, promovida pelo Estado, sem que precisem repensar afetos políticos.

Com o discurso agressivo, furioso, ele ainda pega uma rebarba dos 30% de bolsonaristas não raiz, mas que se identificam com esse estilo macho, patriarcal, arcaico. Um valentão.

Fato é que Ciro não pode ser visto de forma simplista. É inteligente, tem ideias consistentes, parece bem assessorado, fala para uma juventude progressista que tem um discurso mais contundente (veja a moçada das torcidas organizadas que está na rua).

E, por fim, um palpite: Ciro usa isso apenas como estratégia eleitoral. Num eventual governo, com a enorme possibilidade do PT seguir com a maior bancada do Congresso, seria aliado de primeira hora.

Observando... E ouvindo, nem sempre com a paciência necessária, nossos pares de classe. Eles são um excelente termômetro dos 40%.

Comentários

Postagens mais visitadas